Escudo do Santo cruz no ano de 1915.
SANTA CRUZ FUTEBOL CLUB, conhecido carinhosamente como "Tricolor do Arruda" ou "Cobra Coral" é um dos clubes do futebol mais tradicionais e populares do estado de Pernambuco. Fundado em 3 de fevereiro de 1914, o Santa Cruz tem uma história rica, marcada por momentos de glória, paixão da torcida e desafios.
Fundação e Primeiros Anos
A mística do time capaz de superar qualquer dificuldade e reeguer-se quando parecia impossível junto com os mais pobres da sociedade, foi forjada nos primeiros anos do Santa Cruz Futebol Clube.
O primeiro obstáculo a ser vencido foi o racismo.
As seções de cartas dos jornais do início do século XX costumavam receber queixas diárias contra os "jovens vândalos e negros desordeiros" que "chutavam bolas e trocavam pontapés" na Boa Vista, na rua da Glória e no terreiro em frente à igreja de Santa Cruz. A polícia era chamada, interrompia as partidas.
Os meninos, então, resolveram enfrentar a repressão com ousadia: criaram, seu próprio clube, o SANTA CRUZ (1914), e já no ano seguinte se inscreveram para participar do recém-fundado campeonato contra clubes realmente organizados, repletos de sócios endinheirados, ou contra times de funcionários das empresas inglesas, amadores apenas no nome, pois eram na verdade financiados pelos próprios patrões.
A notícia da façanha dos dois primeiros jogos correu a cidade: os rapazes do pátio do Santa Cruz meteram 7x0 no Rio Negro que, derrotado, exigiu revanche e ainda impôs condição: Sílvio Machado, autor de cinco gols, não poderia jogar. No segundo jogo, o Santa ganhou por 9x0. Carlindo escolhido para substituir Sílvio, marcou seis vezes. O adversário desistiu.
O fato de ser o único time da cidade (assim como do Norte e do Nordeste), onde jogava um negro, na caso Teóphilo de Carvalho, o Lacraia, atraiu a simpatia dos mais humildes. Para aumentar a popularidade, os meninos escolheram a campina do Derby, vasto terreno plano onde hoje está a praça do Derby, para mandar seus jogos. Lá não havia arquibancadas nem muro e todos podiam acompanhar os jogos do Santa Cruz. Nos campos da avenida Malaquias e dos Aflitos era preciso pagar para entrar.
Quando o Santa virou um jogo lendário contra o América, em 1917, e foi o primeiro time da região a derrotar um rival do Rio de Janeiro (3x2 no Botafogo, em 1919), sua torcida já era a maior nas palafitas e favelas onde viviam os ex-escravos e seus descendentes.
Décadas de 1930 a 1960: Crescimento e Consolidação.
O Santa Cruz começou a se destacar no cenário estadual a partir da década de 1930, conquistando seus primeiros títulos do Campeonato Pernambucano. Em 1931, o clube venceu seu primeiro estadual, marcando o início de uma trajetória de sucesso.
No início dos anos 40, a aura do time capaz de fazer o impossível extrapolou as fronteiras do estado e se tornou conhecido em todos o País. Em plena II Guerra Mundial, com os submarinos alemães torpedeando navios na costa brasileira, o Santa Cruz aceitou um convite para jogar amistoso em Belém. De lá, seguiu para Manaus, sempre de navio. De volta à capital do Pará, dois jogadores (o goleiro King e o atacante reserva Papeira) morreram provavelmente infectados pelo tifo ou pela malária, contraídos durante a viagem pelo rio Amazonas.
Nas décadas seguintes, o Santa Cruz se consolidou como uma força no futebol pernambucano, conquistando vários títulos estaduais e construindo uma torcida fiel e apaixonada. A rivalidade com o Sport e Náutico, os outros dois grandes clubes de Pernambuco, se intensificou, criando clássicos emocionantes e cheios de história.
Década de 1970: O "Terror do Nordeste"
A década de 1970 é considerada a era de ouro do Santa Cruz. Nesse período, o clube ganhou projeção nacional e ficou conhecido como o "Terror do Nordeste". O time contava com jogadores talentosos, como Vavá, Biro-Biro, Nado e Ademir da Guia (que teve uma breve passagem pelo clube).
O Santa Cruz fez campanhas memoráveis em competições nacionais, como o Campeonato Brasileiro. Em 1975, o clube chegou às semifinais do Brasileirão, sendo eliminado pelo Internacional, que viria a ser campeão naquele ano. Esse foi um dos momentos mais marcantes da história do clube, consolidando sua reputação como uma equipe competitiva e temida.
Décadas de 1980 e 1990: Altos e Baixos
Nas décadas de 1980 e 1990, o Santa Cruz continuou a ser uma força no futebol pernambucano, conquistando títulos estaduais e mantendo sua base de torcedores. No entanto, o clube enfrentou dificuldades financeiras e administrativas, que impactaram seu desempenho em competições nacionais.
Apesar dos desafios, o Santa Cruz manteve sua identidade e sua paixão pela base popular. O clube também investiu em sua infraestrutura, construindo o Estádio do Arruda, que se tornou um dos maiores estádios de Pernambuco e um símbolo do clube.
Anos 2000: Reconstrução e novos desafios.
O início dos anos 2000 foi um período turbulento para o Santa Cruz. O clube enfrentou graves problemas financeiros e chegou a ser rebaixado para a Série C do Campeonato Brasileiro. No entanto, a paixão do torcida e a determinação da diretoria permitiram que o clube se reerguesse.
Em 2010, o Santa Cruz conquistou o acesso à Série B do Brasileirão e, em 2016, voltou a disputar a Série A após 35 anos. Apesar de ter sido rebaixado no mesmo ano, a campanha na elite do futebol brasileiro foi celebrada pela torcida como um momento histórico.
Recentemente
Nos últimos anos, o Santa Cruz tem enfrentado novos desafios, incluindo dificuldades financeiras e administrativas. O clube foi rebaixado para a Série D do Campeonato Brasileiro em 2021, mas continua a contar com o apoio incondicional de sua torcida, uma das mais apaixonadas do Brasil.
Torcida e Identidade
A torcida do Santa Cruz é conhecida por sua paixão e lealdade. O clube tem uma das maiores torcidas do Nordeste e é famoso por seu canto tradicional, "Vem, Santa, vem", que ecoa nos estádios durante os jogos. A identidade popular do clube, que surgiu desde sua fundação, continua a ser uma de suas principais características.
Conquistas
Ao longo de sua história, o Santa Cruz conquistou diversos títulos, veja abaixo:
• Campeonato Pernambucano: 29 títulos
• Copa do Nordeste: 1 título (2016)
• Série B do Campeonato Brasileiro: Vice-Campeão (2005)
• Série C do Campeonato Brasileiro: Campeão (2005)
Legado
O Santa Cruz Futebol Clube é mais do que um clube de futebol; é um símbolo de resistência, paixão e identidade popular. Sua história é marcada por momentos de glória, superação e uma relação única com sua torcida. Apesar dos desafios, o clube continua a ser um dos grandes nomes do futebol nordestino e brasileiro.
