Sem nenhuma modéstia, ele adentra o gramado. Todos os olhos estão fixados nele, que mais parece uma bailarina dançando "O cisne Negro". O sujeito não pisa no chão, masca chiclete, sacode o cabelo, é todo saltitante, tipo Gazela do deserto. E a torcida o declara santo, ou anjo, ou um profeta ou até mesmo um salvador. O artilheiro, que nunca precisara ir a um psicanalista, nem ao dentista, ou até mesmo a um banheiro público. A vida deu-lhe a prerrogativa, que é assim: se perde um pênalti decisivo, não se ouve uma escassa vaia, e se converte o pênalti em gol, é saudado com aplausos risos, e o próprio sente-se um Cristo, o sumo-sacerdote, fazendo a expiação de pecados. E tal semelhança, para os outros mortais jogadores, seria patética. Mas pare ele, é a realidade, o óbvio. Que a verdade seja explicitada, não se pode pedir humildade a um artilheiro. Porque ele é muito maior, que o feijãozinho com arroz, que sempre vemos nos quatro cantos do futebol.
O artilheiro, nunca é mártir em vida.
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